“Toda viagem é circular. Eu percorrera a Ásia, fazendo uma parábola em um dos hemisférios do planeta. Afinal, a grande viagem é apenas uma maneira de o homem inspirado tomar o rumo de casa.”
Assim termina a grande viagem entre continentes relatada em “O Grande Bazar Ferroviário – De trem pela Ásia”. Essa aventura foi escrita por Paul Theroux, em 1975, mas chegou a mim através do Caderno de Turismo da Folha de SP. O impulso pela compra de livros me fez adquirir outra obra do mesmo autor, que estou ansiosa pra começar!
Estes relatos de viagem são minhas leituras preferidas porque na verdade se tornam mais um canal pelo qual viajo… literalmente! Comecei com um livro, há algum tempo, chamado “A Expedição Kon-tiki”, que relata a viagem de ingleses entre América do Sul e Polinésia para provar suas teorias sobre a migração das populações. Depois desse foram relatos sobre atingir o cume do Everest (li duas histórias, e já me imaginava começando minha trilha em Katmandu!), até a grande façanha do Sir Ernest Shackleton e sua tripulação a bordo do Endurance na viagem pelo Pólo Sul em 1912.
Quando cheguei em “O Grande Bazar Ferroviário” estava interessada em ler sobre os países asiáticos e suas relações em 1975. Paul é um verdadeiro apaixonado pelos trens, e embarcou nessa viagem de aproximadamente 4 meses pelo prazer de estar num trem. Ele saiu de Londres, segue pelo Expresso do Oriente até Istambul, e de lá começa uma longa viagem entre inúmeros trens, passando pelo Irã, Afeganistão, Paquistão, Nepal, Índia, Birmânia (atual Mianmar), Tailândia, Camboja, Malásia, Vietnã do Sul, Vietnã do Norte e Japão. A partir do norte da ilha japonesa, ele atravessa o Estreito de Tsungari e embarca no famoso Expresso Transiberiano, onde leva aproximadamente 10 dias para chegar em Moscou!
O livro é uma verdadeira aula sobre cultura, de leitura muito fácil, e cheio de histórias agradáveis em engraçadas que dão ainda mais vida ao enredo. Mas ninguém melhor que Paul para dizer como essa viagem surpreende: “…Não existe nenhum outro trem no mundo (Companhia Ferroviária Estatal Tailandesa) que tenha um imenso jarro de pedra no compartimento do chuveiro onde, antes de jantar, é possível ficar em pé, pelado, refrescando-se com canecadas de água. Os trens de qualquer país contém a parafernália essencial da respectiva cultura: trens tailandeses tem o jarro no chuveiro com o dragão laqueado na lateral, trens cingaleses tem o vagão reservado aos monges budistas, trens indianos tem uma cozinha vegetariana e seis classes, trens iranianos tem tapete de oração, trens malásios tem um bar onde se pode comer macarrão, trens vietnamitas tem vidros a prova de balas nas locomotivas, e todos os vagões dos trens russos tem um samovar (jarro de metal próprio para armazenar a água quente para chás). O bazar ferroviário, com seus artefatos e passageiros, representava sua respectiva sociedade de forma tão completa que embarcar nele era ser confrontado ao caráter nacional. Em alguns momentos, era como se fosse uma aula sem compromisso, mas em algumas ocasiões eu tinha a sensação de que estava sendo amarrado e em seguida atacado por tudo que havia de mais monstruosamente típico de casa lugar.”
Vale cada uma das 453 páginas. Um longa viagem que tomei todos os dias no caminho de ida e volta do trabalho… isso mesmo, viajei longe, me diverti, e aprendi um monte, sem mesmo estar de férias!
Espero que curtam. Boa leitura!
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