4 de julho e um acampamento na Califórnia!

Acredito que estou num momento entre safras (de viagens)! :)

Enquanto trabalho nas viagens do meus clientes, e penso nas minhas próximas férias, que serão muito em breve, aproveito a ‘calmaria’ para compartilhar um momento marcante das minhas viagens: um acampamento que realizei em 04 de julho de 2000, no Lawrence Lake, no norte da Califórnia.

Em 2000 decidi retornar para Santa Rosa, uma cidade do tamanho de Florianópolis, a uns 150 km ao norte de São Francisco, na Califórnia. Foi lá que realizei meu intercâmbio em 1997, quando passei 1 mês vivendo com uma família de americanos, e aprendendo a cultura deles, além do inglês. Assim, 3 anos depois retornei para a mesma família americana, para 6 meses de imersão no inglês.

A Helen e o Bob (meus host parents) formam um casal nada americano! Eles tinham boa alimentação, o filho era vegetariano, adoravam praticar esportes (principalmente fazer trilhas), e o Bob ia para a HP (ele era engenheiro lá, agora se aposentou) todos os dias de bicicleta! Pois bem, acredito ter sido culpa deles eu acabar gostando tanto dessas atividades junto a natureza! Ainda bem.

A viagem de hoje é um mix daquilo que a Helen e o Bob gostam de fazer, e que aproveitaram para me mostrar. No feriado da independência dos EUA de 2000, resolvemos nos dirigir até Lawrence Lake para um acampamento num dos parques da Califórnia, o Eldorado National Forest. É uma área de preservação muito bem protegida e cuidada. Tem centro de visitantes, monitoramento de trilhas, e material explicativo para distribuição aos visitantes que me deixou com inveja! Neste parque é possível fazer trilhar, acampar, pescar e até caçar, desde que de acordo com as leis estaduais da Califórnia e as datas permitidas para cada atividade.

Vou apresentar este acampamento através da transcrição de um email que mandei para meus pais em 04/07/2000, logo que cheguei em casa depois da aventura do feriado. Até porque eu não me lembraria de alguns detalhes! Por isso, deem um desconto pela empolgação na escrita, porque faz bastante tempo, e de lá pra cá vi outras coisas, visitei outros lugares, surgiu a Conselheira e este blog, etc! Mas espero que vocês curtam, assim como eu me diverti! E muito.

Data: 04/07/2000 – 20:52

Assunto: Meu fim de semana!!

“Oi pessoal,

aqui está tudo bem, e quis escrever essa carta antes de falar com vocês para contar o que aconteceu comigo nesse fim de semana que passou, assim temos mais tempo para conversarmos. Foi uma experiência incrível, e vocês verão nas fotos que eu mandar e quando eu voltar. Saíamos de Santa Rosa na quinta-feira a noite, depois que sai da casa da Donna (a mulher para quem estou trabalhando de babá). Fomos para a casa de uns amigos da Helen que moram a 3 horas de carro daqui, fica ao norte do estado da Califórnia. Chegamos lá meio tarde, e logo fomos dormir. Este casal também foi acampar com a gente. Saímos da casa deles de manhã cedo em direção ao Parque Florestal Eldorado, onde fica essa trilha que fizemos e o lago onde acampamos. Foram mais de 2 horas de viagem.

Eu, Bob e Helen com sorrisos nos rostos: começo de trilha! Início da aventura! Olha a neve no alto das montanhas!!

O lugar é super bonito, muitos pinheiros pois a região é fria, muitas montanhas também. Dava até para ver a neve em algumas montanhas bem altas, super bonito. Esse parque é enorme e tem muitas trilhas diferentes, a que o Bob escolheu era uma trilha que percorria vários lagos, e nós acampamos no terceiro lago depois que começamos a fazer a trilha. Assim que estacionamos o carro, pegamos nossa mochilas (daquelas enormes onde se carrega a casa nas costas, vocês vão ver as fotos, eu não acreditei que pude carregar tanta coisa, mas as mochilas são especiais, elas concentram o peso no quadril e não nas costas), e fomos em direção a trilha. Estávamos em cinco, este casal que foi conosco é super legal, super engraçado, fomos caminhando e conversando quase o tempo todo.

A ida durou mais de 3 horas contando o tempo que tivemos que parar para almoçar. Muitos riachos, pedras e pinheiros (muitas pinhas também, lembrei do artesanato da mãe). Quando chegamos no ‘nosso’ lago, Lawrence Lake, eu dei graças a Deus, pois já não aguentava mais caminhar, apesar de que a paisagem era super bonita. Demos a volta no lago e acampamos bem perto da margem, tudo estava muito legal, parecia coisa de filme.

Momento de descanso na chegada ao local de acampamento depois de 3 horas de trilhas. Na foto: Bob, Carol e Helen.

Montamos as barracas, eu tinha uma especial pra mim. Arrumei minhas coisas, meu saco de dormir e comecei a ajudar a Helen com a comida (tivemos que pendurar a comida durante as noites pois algum animal poderia vir comer nossa comida, pode?). No começo eu estava vestindo só shorts e camiseta, mas assim que começou a escurecer fui colocando roupa e mais roupa (a Helen me emprestou roupas especiais para o vento e o frio).

Chegamos nesse lago as 4 ou 5 da tarde e na hora do jantar (por volta das 8) eu já estava vestindo luvas e toca. A gente podia ver a neve que ficava nas montanhas um pouco mais acima da gente, super bonito. Fiquei esperando alguém fazer uma fogueira quando a Helen me disse que é proibido fazer fogueiras nesse parque, por isso tivemos que levar um fogãozinho. Tivemos uma janta gostosa, macarrão com queijo e sardinha!! Bem, não estava tão ruim assim! :)

A Helen trouxe barras de cereais pra dar energia pois iríamos fazer várias caminhadas pelo lugar. Fui dormir as 9 e meia, que foi o momento em que ficou totalmente noite, estava super frio. Vesti tudo que tinha e me enfiei debaixo do saco de dormir, não sentia frio, mas mal podia me mexer pois a temperatura mudava. Não consegui dormir direito, meus músculos doíam, não sei se de frio, ou talvez de cansaço. Sei que é ridículo, mas fiquei prestando atenção em cada barulhinho, fiquei com medo de que algum animal aparecesse no nosso acampamento, mas nada aconteceu. :)

No outro dia de manhã meu pescoço doía, e só depois fui perceber que era porque eu não tinha travesseiro, por isso na segunda noite fiz um com as minhas roupas. Levantei as 8 porque não conseguia mais dormir, e a primeira coisa que fiz foi procurar um ‘banheiro natural’! No começo parecia horrível ter que se esconder atrás de uma pedra, mas depois com o tempo, ficou normal.

Nosso café da manhã era aveia com leite quente, o que nos dava bastante energia, um pouco de chocolate quente pra esquentar, e uma barra de fruta com cereal, pra mais energia. Não passamos fome não, pelo contrário, do jeito que gosto de comer, até nisso me diverti!

O casal que estava conosco foi pescar logo depois do café da manhã, eles haviam levado um barquinho e tinham licença para pescar. Enquanto isso, eu e a Helen estávamos lendo um livro que compramos, “The Perfect Storm”, que é um filme que deve estar sendo lançado aí no Brasil. Assim que a Carol e o Tom voltaram da pescaria eles trouxeram 6 trutas, e bem grandinhas, acreditam? Com isso, nosso jantar já estava garantido!!

O pequeno bote da Carol e do Tom, e a Carol limpando as trutas que pescou.

Almoçamos um sanduíche tipicamente americano: creme de amendoim e geleia de morango. Ganhamos mais uma barra de cereais. Depois de almoçar fomos fazer uma trilha em direção a dois lagos que fica próximo do nosso acampamento. Levou em torno de 1 hora para ir e outra para voltar. O lugar é super bonito, de encher os olhos e a máquina fotográfica, pois tirei mais de 30 fotos (e não eram digitais!!). Assim que voltamos começou a esfriar de novo, mais frio do que a noite anterior, por isso me enchi de roupa, e estava tudo bem. Cozinhamos o jantar, um macarrão preparado pela Helen, além dos peixes frescos que a Carol pescou pela manhã. Bem gostoso, e ainda depois do jantar tivemos um chocolate quente para esquentar. Escovei os dentes no lago, e fui pra minha cama, aliás, saco de dormir!

Um lago-espelho numa das trilhas que realizamos.

No segundo dia de manhã, logo depois do nosso café, fomos fazer uma trilha bem mais longa, de mais de 3 horas em direção ao ponto mais alto do lugar onde estávamos. Foi super legal, mas muito cansativo também. Tinha neve por todos os lados, tirei foto escorregando na neve. Era tão alto que o vento era quase insuportável de tão forte e tão frio, mas a paisagem enchia os olhos. O tempo começou a virar, o céu encheu de nuvens, fiquei com medo que chovesse, pois nunca acampei nessas condições. No topo mais alto da montanha podíamos ver Lake Tahoe, local onde esquiei a primeira vez que viajei pra Califórnia. Na volta para o acampamento, a Carol fez uns snow-cones, um picolé feito com gelo picado da neve e um suco de frutas! Dados os recursos, foi divertido!

O Bob, eu e a Helen do ponto mais alto do parque. De lá podíamos ver Lake Tahoe.

Olha que curtindo um snow-bunda! E de bermuda!

Assim que chegamos no acampamento ainda havia sol, o tempo começou a melhorar, as nuvens foram embora e aproveitei pra tomar banho no lago (mas não vão pensar que mergulhei no lago não, a água vem da neve das montanhas e vocês podem imaginar o quanto era fria). Apenas molhei-me bem ligeiro, numa sequencia rápida de sabonete + rápida passada pela água + toalha + roupas bem quentinhas! Já me sentia bem melhor! Depois do banho fui pescar com a Carol e o Tom, e se eu conseguisse alguma truta, a gente levaria para casa, para o jantar do dia seguinte (gelo não faltava para armazenar os peixinhos!). Bom, depois de diversas tentativas, consegui pescar 3 trutas. E não é história de pescador, tirei fotos! E até limpei os peixes!

Eu e as trutas que pesquei.

Assim que a noite chegou percebi que estava mais fria que as duas anteriores. O Tom disse que estava em torno de 40°F, o que significa algo levemente acima de 0°C!! Estava muito frio, e o vento ainda nos dava a sensação de cortar a pele. Além da vestimenta toda (roupas de frio, roupas pra vento, toca, luvas, lenços), não podia faltar protetor para rosto e lábio, porque o frio queima também!

Jantamos, e como era nossa última noite, tivemos strogonoff! Bom, tudo comida semi-pronta, daquelas que só precisa adicionar água quente. Mas não era tão ruim assim. Tivemos até sobremesa, uma mistura de aveia com leite quente, maças e passas.

Fui dormir pensando o quanto aquilo tudo estava sendo divertido, e planejando fazer o mesmo quando voltasse para o Brasil. É uma experiência interessante de contato com o ambiente natural, e a gente aprende tanta coisa! Dormi melhor nesta última noite, acho que já estava me acostumando com o frio e com os barulhos da floresta durante a madrugada. Na manhã seguinte, seguimos o roteiro com o café organizado pela Helen, igual os anteriores, e começamos a recolher as coisas. Colocamos as barracas viradas ao contrário, para secar a parte de baixo, e enrolamos tudo novamente para voltar as mochilas. Ah, claro! Sem esquecer das minhas trutas (senti orgulho de mim, pois consegui fisgar umas truta e ainda limpá-las – o vô Jacob iria adorar isso!).

Arrumamos tudo, e colocamos o pé na trilha de volta para o carro. Eu estava sonhando com uma cama de verdade, e uma noite bem dormida. Meus olhos estavam vermelhos por causa do sol e do frio, além da pele super seca. Foram mais de 3 horas para chegar ao carro, mas foi muito melhor que a ida, pois agora era só descida! Chegamos no carro, tirei o tênis e vi meu dedinho sangrando! Estava tão cansada, que tentei limpar, mas apaguei, assim que o carro aumentou a velocidade, e estávamos na estrada de volta pra casa. No caminho paramos para um jantar diferente e sofisticado se comparado aos últimos dias: comida mexicana (e não semi-pronta!). Dali foi chegar em casa, reencontrar o chuveiro quente, a cama fofa, e os cobertores macios.

Bom, foi um final de semana bem interessante, bonito e divertido. Nunca me imaginei numa floresta assim antes, e acho que valeu a pena o frio e o sacrifício!

Beijos, Karla.”

E aí? Ficou com vontade de acampar? Arruma a barraca, tem feriado chegando aí! Aproveite e curta a natureza, e compartilhe com ela essas sensações de liberdade e paz tão especiais.