Como relembra o Fábio, um amigo meio chileno/meio mané: '...uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa!". Pois é, sabe quando dá aquela vontade de tomar uma cerveja? Ás vezes a vontade é cerveja em quantidade, muito calor, bebida gelada, descendo bem facinho! Outra coisa é beber uma cerveja diferente, sabor diferente, mais complexo, outras cores, outras marcas. Pois a viagem de hoje é um pouco sobre esta 'outra cerveja', essa ‘outra coisa’, feita artesanalmente aqui perto de Florianópolis, no Vale do Itajaí.
A ideia desta viagem nos ocorreu ainda no ano passado, quando navegávamos pelo site da Santur, a secretaria de turismo de SC. No site oficial há um roteiro indicando as principais cervejarias artesanais do estado, deixando tudo mais fácil... só seguir o caminho. E pra quem gosta de cerveja, sabe que Blumenau é praticamente uma 'fonte' da bebida, principalmente em outubro! E que viva a Ocktoberfest!
A decisão de encararmos esta viagem neste mês de janeiro 2011 surgiu depois que bebemos uma excelente cerveja (para meu paladar, lembre-se que as avaliações aqui são bem pessoais!), num café bar aqui em Campinas/São José, chamado Divino. A vontade era de tomar algo diferente, e lá há diversas opções. Por sugestão, provamos a cerveja Coruja, nas modalidades Viva e Extra Viva. A garrafa parece aquelas antigas garrafas de farmácia (até deu vontade de levar uma para minha coleção), o aroma é um destaque, e a cor é bem diferente. Pena que não estava com a máquina, pois ainda não adquiri o hábito de 'viajar' na minha cidade, e registrar o que há de bom por aqui! Quem sabe mudo isso logo, pra compartilhar Floripa e arredores para vocês.
Degustando essa maravilha de cerveja artesanal decidimos então eleger um grupo de amigos para percorrer o difícil roteiro das cervejas artesanais do Vale do Itajaí, e conhecer de perto o que elas tem de diferente e interessante. Fizemos o sacrifício de, em 6 pessoas, passarmos 2 1/2 dias bebendo cerveja!
Saímos de carro de Floripa na sexta, pra começar com um happy hour, é claro. Escolhemos a viagem de carro porque o Vale do Itajaí está bem próximo de Floripa, e o carro nos daria a autonomia necessária para nos deslocarmos entre as cervejarias sem grandes dificuldades. Veja o percurso que realizamos neste mapa.
O local escolhido para este primeiro ‘happy-hour’ foi a ZeHn Bier, em Brusque, geograficamente uma das portas de entradas do Vale do Itajaí. A ZeHn possui uma choperia anexa as instalações da fábrica, com um espaço amplo, e boas sugestões para petiscos típicos alemães! Não poderia faltar uma típica wurst num molho de cerveja… com muita cebola! Só uma Porter para acompanhar tamanha leveza deste prato! :)
A Cervejaria ZeHn Bier foi fundada em 2003 pela família Zen, uma das mais tradicionais de Brusque. O nome ZeHn foi dado a partir de uma alteração do sobrenome da família, acrescentando um H, que corresponde à primeira letra do nome do empresário Hylário Zen, autor da ideia e líder do projeto. Desta forma a palavra "ZeHn" (que quer dizer "dez" em alemão e cuja pronúncia é "tzehn") foi incorporado à cervejaria e ao nome do próprio chope.
Aqui provamos os chopes Pilsen e Porter, que são produzidos durante o ano todo, porém a fábrica ainda elabora outros dois chopes: Pilsen Extra e Heller Bock, que são sazonais (infelizmente).
Antes de continuar falando das próximas cervejarias, há um detalhe em comum entre elas: todas as fábricas que visitamos respeitam rigorosamente as tradições germânicas, utilizando como matéria prima somente quatro ingredientes: o malte, o fermento, o lúpulo e a água. No caso da ZeHn, os chopes não são nem filtrados, deixando o líquido mais encorpado.
Nosso happy hour estendido terminou na ala reformada do Hotel Glória, em Blumenau, que escolhemos como nosso QG nesta operação de final de semana! Se alguém conhece o Hotel Glória, pode imaginar a minha alegria ao acordar e me deparar com uma mesa de café da manhã exageradamente recheada de deliciosas opções!
O Hotel Glória, um dos hotéis mais tradicionais da cidade é responsável também por um dos cafés coloniais mais famosos de SC, o Cafehaus Gloria. São tantas as opções que falta espaço para experimentar tantas delícias! O hotel conta com uma ambiência antiga mas muito bem conservada, repleta de paredes em madeira, que conferem conforto, e vem reformando seus quartos para oferecer mais comodidade e tecnologia para os hóspedes. Além disso, a localização do hotel é bastante central, próxima ao rio, a movimentada Rua XV Novembro e ao principal shopping da cidade.
Depois desse café da manhã dos sonhos no sábado, nada mais nos restava senão seguir nossa trajetória sofrida em busca das cervejas artesanais! Quanta tristeza, não? hehehe. Agendamos assim duas visitas para conhecer os detalhes da produção: Bierland e Eisenbahn, ambas em Blumenau.
Eram 10h30 da manhã e já estávamos na Bierland, sentindo bem de perto o aroma do malte e da espuma do chope que corria pelo chão da fábrica. Com a companhia de um dos funcionários conhecemos todo o processo, começando pela trituração do malte (pequena parte brasileiro, usado geralmente para fabricação das cervejas pilsen, e o restante provenientes da Alemanha, já preparados – leia-se semi-germinados e torrados).
Esta trituração faz parte da fase de mostura do processo, que dura de 2 a 5 horas, e extrai os açúcares fermentáveis e outros componentes importantes do malte. Depois do malte moído, ele é misturado à água quente, permanecendo a uma temperatura de aproximadamente 65ºC. Depois disso, a água rica em açúcares (agora chamada de MOSTO) é retirada e o que restou do malte moído é lavado com água quente para extrair o máximo possível dos açúcares que restaram.
A próxima fase é a fervura, onde o mosto é fervido na caldeira, normalmente de 1 a 2 horas. Durante a fervura, o lúpulo é adicionado em momentos variados, com a finalidade de conferir amargor, paladar e aroma que o cervejeiro deseja. No final da fervura, o mosto é separado do lúpulo e resfriado, sendo preparado para a fermentação. No final desta fase sobra do processo um bagaço destes maltes e lúpulos, que posteriormente pode ser utilizado na fabricação de pães e massas!
A última fase do processo de fabricação ocorre quando o fermento é adicionado ao mosto para iniciar a fermentação e transformá-lo em cerveja. As fermentações “Ale” (de alta fermentação) duram de 5 a 10 dias a temperaturas de 16 a 21ºC. As fermentações “Lager” (de baixa fermentação) geralmente são mais longas, com uma fermentação inicial de 10 a 13ºC, seguida de um período de maturação a 1ºC. No final da fermentação, depois da prova e aprovação do cervejeiro, a cerveja é envasada.
Atualmente a Bierland fabrica 4 tipos de cervejas engarrafadas: Pilsen, Pale Ale, Weizenbier e a Bock. Produz chope destas mesmas cervejas, que são comercializados na choperia da fábrica, e no aluguel de barris para a região de Blumenau, pois a durabilidade do chope é bem menor (em torno de 20 dias).
Depois de provarmos todas as opções de chope do bar da fábrica, e adquirirmos algumas garrafas para garantir aquela degustação em casa, seguimos para a 2ª parte do dia: visita a Eisenbahn.
A ideia desta cervejaria artesanal surgiu de uma família apaixonada por cervejas especiais. Descontentes com a pequena variedade de cervejas no Brasil, decidiram fundar sua própria cervejaria. Foram alguns anos de pesquisas, conversas com mestres cervejeiros da Alemanha, Bélgica e EUA e visitas às cervejarias desses países. E com a vinda de um mestre cervejeiro alemão com 30 anos de experiência, a cervejaria foi aberta, isso em 2002. A fábrica, localizada ao lado de uma antiga linha de trem em Blumenau, serviu de inspiração: Eisenbahn em alemão significa ferrovia.
Aproveitamos o bar da fábrica da Eisenbahn para almoçarmos. O local parece um verdadeiro pub irlandês. Há tantas coisas penduradas nas paredes que é difícil se concentrar numa informação só! Assim como as opções de cervejas da Eisenbahn! Pelas minhas contas, são 14 opções: 11 cervejas tradicionais (em chope são oferecidas a Dunkel, a Pale Ale, a Weinzenbier e a Pilsen), 2 cervejas-espumantes produzidas pelo método champenoise e o licor de cerveja, elaborado a partir da Eisenbahn Dunkel.
Antes da visita, que estava marcada para as 14h, aproveitamos para provar alguns itens do cardápio. Os meninos até comeram os famosos Rollmops, uma herança dos imigrantes alemães, cuja receita original é feita com arenque, mas no Brasil, o mais comum é encontrar de sardela ou sardinha. A conserva é feita do peixe bem limpo, cru, aberto ao meio e enrolado como um rocambole de temperos fortes e especiarias. O recheio pode variar, mas não deve nunca faltar cebola. Teve diferentes tipos de wurst, e sanduíches diversos. Tudo para preparar o corpo para mais algumas degustações de cervejas.
A visita (R$ 5,00) e as explicações foi bastante rápida. Ao contrário da Bierland, apenas ficamos na entrada do galpão, de onde podíamos ver quase todo o processo, porém não podíamos passar daquele pequeno espaço. A explicação foi bem resumida, principalmente porque havíamos acabado de sair da Bierland. No final, degustamos um chope de 500ml de pale ale, que estava maravilhoso, diretamente do tanque de fermentação.
A chuva começou a ser formar (nenhuma novidade, já que estamos em Blumenau), então resolvemos voltar ao hotel, tomar um café e comer algum ‘docinho’ no Cafehaus Glória. A noite teríamos outro importante compromisso em degustação: visitar o novo bistrô da cidade, o Bistrô Santa Efigênia.
Este bistrô nasceu da percepção de seu dono quanto a demanda de um local mais sofisticado, para a cidade de Blumenau, que pudesse oferecer pratos da alta gastronomia francesa e paulistana.
O local é muito agradável, bela decoração, ambiente externo em deck de madeira, atendimento muito bom. O chef veio até a nossa mesa, falou dos pratos, nos fez sugestões que não estavam no cardápio em função de ingredientes frescos que havia adquirido na região, e fez questão de voltar depois que jantamos, para saber a nossa opinião. Inlcusive fez uma aposta: se não gostássemos das sobremesas, não precisaríamos pagar a conta toda (uns R$ 500,00)! Mas não teve jeito, no final a famosa máquina de cartão de crédito rodou a mesa, e nos confessamos pelos prazeres dos pratos servidos.
No domingo o primeiro compromisso era um longo e tranquilo café da manhã, só para provar aquelas últimas tortas do Glória! :) Depois seguimos para Pomerode, a uns 30 km de Blumenau, para visitar nossa 4ª cervejaria artesanal, a Schornstein. Pomerode é uma cidade bem pequena, mas muito charmosa, uma das cidades mais alemãs de SC.
Fundada em 2006, a Schornstein está instalada num prédio tombado pelo patrimônio histórico, cuja chaminé está na logomarca e no nome da cerveja (chaminé de pedra). Em Pomerode, a fábrica produz mensalmente 30 mil litros de cerveja: pilsen natural, pilsen cristal, pale ale, bock, weiss e imperial stout. Estão abrindo uma nova fábrica em São Paulo, que irá produzir mais 45 mil litros por mês das cervejas Schornstein.
O bar da fábrica serve todos os chopes da cervejaria, inclusive num menu degustação interessantíssimo, e colorido. Os meninos adoraram. Além dos pratos típicos alemães (bem pesados para aquele calor de 32ºC que estávamos passando), tivemos a oportunidade de provar o pão caseiro feito do bagaço da cerveja (malte+lúpulo). A aprovação foi tanta, que pedimos para embrulhar um inteirinho pra trazer pra casa! Bela aquisição!
Fomos conhecer outros dois pontos gastronomicamente interessantes em Pomerode: a Torten Paradies, e a Nugalli. A primeira é uma confeitaria com café colonial tipicamente alemães (novidade!!! hehehe), com muitas opções, principalmente nos doces. Acabamos almoçando lá! Já a Nugalli é uma fábrica de chocolates finos, de muita qualidade. Além de bombons avulsos, a loja vende pequenas barras, chocolates para cafés e cappuccinos, além de chocolates especiais, sem lactose, diets e 80% cacau! Boa razão para trazer umas lembrancinhas pra casa!
Assim, já no meio da tarde de domingo, o calor na rua dava espaço para grandes nuvens negras que se aproximavam de Pomerode. Tivemos tempo apenas de separarmos o pão do bagaço da cerveja, nos despedirmos entre os carros em que estávamos, e voltarmos para Florianópolis, embaixo de pesadas gotas de chuva… que mais pareciam lágrimas de tristeza por deixar tantos prazeres pra trás! Mas o Vale do Itajaí é logo ali…, aproveita e dá um pulinho lá, vale a pena!
Ah, e estas foram apenas 4 das diversas cervejarias artesanais que existem em SC. Há ainda outros ‘motivos’ para novas viagens! Que bom!
Veja todas as fotografias desta viagem aqui!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirGIANE, COMO É PRAZEROSO PARTICIPAR DE TODAS ESSAS VIAGENS E PODER DISFRUTAR DE TANTOS MOMENTOS INESQUECÍVEIS; OS QUAIS FICARÃO REGISTRADOS EM NOSSAS CABECINHAS E SERÃO SEMPRE MUITO BEM LEMBRADOS... PARABÉNS PELO BLOG E POR TODOS OS POSTS... LEIO TODOS!!! FICO MUITO GRATO DE SEMPRE ESTAR PRESENTE, ASSIM COMO DE TAMBÉM SEMPRE SER LEMBRADO... FICA MUITO PRÁTICO E FÁCIL DE VIAJAR EM SUA COMPANHIA, SEMPRE PREPARADA PARA TUDO E PARA TODOS. ESTOU ANSIOSO PARA NOSSO PROXIMO DESTINO!!
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