Vamos a razão desta viagem: a degustação dos vinhos mendocinos!
Bom, primeiramente é importante deixar claro que não sou expert em vinhos. Apesar de ser uma ‘Trentin Berticelli’, e meu tataravô ter vindo de navio do norte da Itália para o sul do Brasil, meu conhecimento sobre vinhos é muito pequeno. Lembro-me das manhãs em que meu avô, depois das cuias de chimarrão, tomava sua taça de vinho tinto (de garrafão, é claro). Infelizmente essa prática não era comum na casa dos meus pais.
Fui conhecer melhor os vinhos e as suas uvas muito recentemente, quando morei nos EUA (2000), ao norte da Califórnia, em Sonoma County (região americana importante na produção de vinhos). No começo achava muito esquisito todo o ritual para a escolha da garrafa, apresentação do vinho, abertura e retirada da rolha, a prova por quem escolheu, o modo de mexer o copo para soltar o aroma, observar a cor do vinho, etc. Ainda tenho dificuldades para descrever o aroma de um vinho que estou degustando, mas já posso dizer que ando gostando do que venho provando!
Há outro detalhe também importante: a seleção das bodegas que mencionarei aqui, e por consequência o sucesso das nossas visitas, se deve a sugestão do Fábio Grasso, amigo meu, que nos acompanhou nesta viagem. O Fábio realmente gosta de vinho, não é a toa que andou sugerindo ao condomínio dele a construção de adegas individuais no subsolo dos prédios. “Para que hobby-box?”!
A seleção do Fábio levou em consideração bodegas menos industriais, com pequena produção. Assim marcamos visitas nas bodegas Ruca Malén, Pulenta State e Kaiken. Além disso, elegemos duas outras bodegas maiores. Finalizamos nossas visitas na Catena Zapata e Família Zuccardi.
Importante mencionar que agendar visita é imprescindível para conhecer a região. Há diversas bodegas (mais de 1.200), e por mais tentador que seja sair de uma e já entrar na bodega vizinha, esta pode não estar preparada para receber turistas. Há também diversas formas de visitar uma bodega, desde simplesmente percorrer o processo produtivo, como degustações ou então alternativas que envolvem refeições, colheita das uvas, entre outras opções.
Depois de eleitas todas as bodegas que pretendíamos visitar, fiz os contatos por email mesmo, e fomos prontamente atendidos. Em grande parte das bodegas, ao realizar a reserva, eles já perguntam qual o tipo de degustação que pretendem fazer, isto é, quais os vinhos e em que quantidade desejam degustar. Até o momento das reservas não imaginava que beberíamos tanto, e tão bem!
Começamos nosso tour do vinho no domingo mesmo, logo após nossa chegada em Mendoza, que aconteceu no sábado a noite. Depois do café da manhã fomos diretamente para a Bodega Ruca Malén, localizada na Ruta 7, Lujan de Cuyo, no caminho para o Chile. A Ruca Malén iniciou suas atividades em 1998 a partir do encontro de dois amigos franceses, já experientes na vitivinicultura, e que desejam iniciar seu próprio negócio. Em 1999 realizaram sua primeira colheita.
Ela fica a aproximadamente 35 km do centro de Mendoza, mas o trajeto é tranquilo, em virtude das diversas placas indicativas ao longo das rodovias. Na Ruca Malén havíamos agendado uma visita com almoço em menu-degustação, com 5 passos e 7 vinhos. Ao chegarmos na bodega, realizamos uma pequena visita pela fábrica, conhecendo alguns dos ambientes do processo produtivo, e encerrando o passeio no restaurante. Aí partimos para o almoço menu-degustação, que foi divino! Faço uma ressalva para os comentários que seguirão, pois estas observações são do menu apresentado pela bodega, e em alguns casos fiz minhas observações. Como mencionei anteriormente, ainda estou aprendendo a arte de apreciar um vinho. Segue então uma das mais deliciosas aulas que tive!
Começamos com uma salada de quinoa e limão, temperada com azeite de oliva Arbequina, acompanhada por chips de maçã caramelizados com creme cítrico e cunha de maça verde. Para este primeiro passo a harmonização foi realizada com o Yauquén Chardonnay 2009, com objetivo de destacar a fruta, a persistência e acidez equilibrada do vinho com a frescura do creme cítrico e da maça.
No segundo passo foi servido um espetinho de carne curada com especiarias e ‘empanada’ de abóbora-cabaça e nozes, com molho ‘chimichurri’ de oliva Picual. Este segundo aperitivo foi harmonizado com o Yauquén Cabernet Sauvignon 2009, que por ser fresco e frutado complementa bem com as especiarias da carne e os sabores agridoces da empanada. Só faria uma observação com relação ao tomilho. Não sou super fã deste tempero, e ao acrescentarem na abóbora-cabaça da empanada, o mesmo agrediu o sabor de nozes, e o vinho.
Para o terceiro passo, a entrada deste menu-degustação, foi nos servido um terrine de queijo fresco, alho-porró e azeitonas pretas com xarope funghi e pão de campagne torrado em azeite de oliva Arauco e Farga. A harmonização desta entrada foi realizada com o Ruca Malén Merlot 2005, porque as notas terrosas e tostadas deste prato foram contrastadas com a suavidade e os taninos doces do vinho, destacando o sabor defumado do prato. Realmente foi o melhor prato servido, numa combinação bem harmoniosa entre o agridoce do xarope de funghi e a acidez leve do vinho merlot.
No prato principal, quarto passo, não havia dúvidas de que serviriam carnes. No entanto, para nossa surpresa, a Ruca Malén possui diversas opções vegetarianas (o Carlos agradeceu), o que não é nada comum na Argentina! Para este medalhão de filé assado com creme de borras e cassis, batatas com pimenta preta, beringelas queimadas no fogo e brunoise de legumes, foi proposta uma harmonização com 2 vinhos diferentes: Ruca Malén Malbec 2007, cujos taninos suaves harmonizam bem com o filé grelhado e o creme de borras; e o Kinién Cabernet Sauvignon 2009, cujas notas de especiarias se equilibram muito bem com as beringelas defumadas e a pimenta. Particularmente eu gostei mais da harmonização com o Malbec 2007, que desceu muito fácil com o passo servido.
Antes de partirmos para a sobremesa, e assim limparmos um pouco de nosso paladar para a próxima experiência, foi servido uma Granita de Chardonnay, limão e alecrim, simples, refrescante e suave. Na medida certa para sairmos de um prato pesado e muito bem condimentado como foi o medalhão de filé, para a sobremesa.
O quinto, e último, passo, foi a sobremesa. Serviram um pastel folhado de banana assada com creme de chocolate branco, canela, mel e caramelo. E aqui, a harmonização foi feita com o Ruca Malén Chardonnay 2007, onde 30% do vinho é envelhecido em barricas de carvalho francês por 8 meses, dando mais corpo ao vinho branco, e destacando notas de manteiga, mel e tostado.
Essa foi só a primeira prova do que ‘teríamos que passar’ nas degustações de Mendoza. No entanto, é claro que o menu-degustação é um atrativo extra da Ruca Malén, e que muitas ainda não oferecem. Esta degustação de vinhos e 5 passos custou $ 180,00 pesos argentinos por pessoa, aproximadamente R$ 80,00. O serviço foi exemplar, e os pratos com sabores e texturas interessantes. Apesar de não ser uma visita econômica, infelizmente em Floripa pagamos este mesmo valor para experiências muito menos interessantes. :(
Muito bom ,dá agua na boca , não tens intenção de fazer um grupo de degustação pra Mendoza, visitando estes lugares?
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