Do grão à xícara!

Do grão à xícara: um tour pelas fazendas de café da Mogiana Paulista e Sul de Minas
Começava nosso carnaval, e a única coisa que tinha certeza era de que a bebida a ser servida nesse feriado seria de muita qualidade, aroma e sabor! Para estes 4 dias de festas, eu e meu companheiro de viagens, Carlos Luiz Nunes Jr, decidimos explorar um roteiro diferente (e de grande potencial turístico!!) entre as fazendas de café da Mogiana Paulista e Sul de Minas.
Não somos provadores profissionais, nem produtores, muito menos empresários buscando o melhor grão para colocar em nossa cafeteria. Somos apenas apreciadores, e nosso objetivo era realmente aprender um pouco mais sobre essa bebida tão cotidiana dos brasileiros. Como resultado final desta viagem de exploração, montaríamos um roteiro especial, com boas opções de fazendas e cafés, para que outros apreciadores, como nós, pudessem degustar o café artesanal ou especial diretamente onde é produzido.

Antes de definirmos qualquer região, buscamos informações em diversos meios, e foi consultando a revista Espresso que encontramos a história de diversas fazendas, as características de vários grãos, e muitas outras informações importantes para quem buscava conhecer um pouco mais da bebida, seus produtores, e os resultados já alcançados com os grãos brasileiros no mundo!

A partir das páginas da Espresso, elaboramos um roteiro pela região da Mogiana Paulista (nordeste do Estado de São Paulo) e Sul de Minas. Apesar de ter lido sobre excelentes cafés em outras regiões do Brasil (Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, entre outros), decidimos por esta região principalmente pela concentração e proximidade geográfica. Escolher as fazendas não foi fácil! No entanto, também tivemos alguma dificuldade em conseguir agendar as visitas. Algumas fazendas de maior porte não possuem estrutura para visitação, e além disso estávamos num período entre safras (com pouca movimentação produtiva), durante um dos feriados mais longos do país!
Mesmo assim, conseguimos traçar um trajeto entre os municípios de Serra Negra, Itapira (SP) e Carmo de Minas (MG). Considerando as distâncias, e as confirmações recebidas até a data de embarque para Campinas, já tínhamos visitas agendadas em 4 fazendas diferentes: Fazenda Chapadão – Café Fazenda Chapadão (vendido para torrefadores), localizado em Serra Negra, Fazenda Vale do Ouro Verde – Café Vale do Ouro Verde (marca própria), também localizado em Serra Negra, Fazenda Águas Claras – Fazenda Águas Claras Cafés Especiais (marca própria), localizada em Itapira e a Fazenda Sertão – Unique Cafés Especiais (marca própria), localizada em Carmo de Minas. Infelizmente não conseguimos, a tempo, confirmar visitas nas Fazendas Pessegueiro (Café Pessegueiro), Fazenda Recreio (Café Dona Mathilde), Fazenda Sertãozinho (Cafés Orfeu e Eurídice), entre outras. Mas ficaram os contatos para um próximo roteiro, que será realizado no período de colheita, que se inicia em maio e pode chegar até outubro, dependendo da quantidade de trabalhadores envolvidos na colheita dos grãos.
Ao sair de Campinas, dirigimos na direção de um dos primeiros trechos da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, criada em 1872 por grandes produtores de café e gado para escoar suas produções. Passamos por Jaguariúna e Amparo, até chegar em Serra Negra. A cidade estava bastante movimentada pelo Carnaval, com direito a desfile de carros alegóricos, e muita festa na praça principal. No entanto, a motivação da nossa viagem nos levava para os cantos mais distantes da muvuca da Carnaval...
Estação de trem de Jaguariúna, por onde passava a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro.
Começamos pela Fazenda Chapadão, propriedade da Família Dini, produtora de laticínios (entre eles, diversos queijos finos (E deliciosos!) e também de café arábica. Visitamos as instalações da fazenda, acompanhamos a ordenha mecânica e os cuidados com os bezerros. A produção de laticínios é focada no público de Serra Negra, no entanto há diversos produtos que você pode levar pra casa! É difícil escolher depois de tantas opções na prova de queijos, após a visita. A fazenda faz parte da Rota do Vinho e Queijo de Serra Negra, juntamente com outras propriedades localizadas nas proximidades, e que produzem cachaças artesanais, vinhos e outros produtos coloniais.
Ordenha mecânica e produção de queijos finos da Fazenda Chapadão.
O café produzido pela Fazenda Chapadão foi recentemente eleito o melhor de Serra Negra, segundo o concurso PROJETO QUALIDADE DO CAFÉ - QUOTA MILLE / SARA LEE / UTZ CERTIFIELD. As plantas recebem um tratamento bastante artesanal e cuidadoso, com colheita manual, secagem em terreiro, e depois complementação da secagem em secador mecânico até chegar na umidade ideal para manutenção do café-coco nas tulhas. Na última safra o Café do Ponto adquiriu parte da produção para incorporar em seu blend.
Detalhes do equipamento para lavagem dos grãos e do terreiro para secagem. Abaixo, o café em coco e a premiação recebida pela fazenda.
No dia seguinte seguimos para a Fazenda Vale do Ouro Verde, para conhecer a produção do Sr. Nelson Bruni. Além da produção de seu café (excelente café!), o Sr. Nelson e família dedicam-se a uma grande pousada, localizada na mesma propriedade, e projetos de turismo pedagógico e rural, incentivando o desenvolvimento do turismo local, compartilhando com seus visitantes a vida no campo.
Paisagens da Fazenda Vale do Ouro Verde.
Além de oferecer uma visita monitorada pelos diferentes talhões, pelo terreiro, e pelas máquinas responsáveis pelo beneficiamento dos grãos, o Sr. Nelson montou, próximo da pousada, o Mini Museu do Café e uma pequena cafeteria onde se pode degustar seus grãos, sua cachaça artesanal, e assistir um vídeo sobre a sua história na produção do café! O lugar é uma graça, e consegue fornecer em detalhes todas as informações sobre o café, desde as plantas, seu processo produtivo, diversas curiosidades sobre a bebida no Brasil e no mundo, além de compartilhar com os visitantes a história da família, com a exposição de diversos equipamentos destinados ao beneficiamento manual do café nos séculos XIX e XX.
Empório do Vale (cafeteria e loja) e Mini Museu do Café.
Tivemos o grande privilégio de conversar por algum tempo com o Sr. Nelson, e aprender ainda mais sobre os detalhes desta bebida, e como funciona o mercado brasileiro para a comercialização do café. Foi uma aula e tanto! Isso sem comentar a paisagem deslumbrante da fazenda, sob um céu azul, e cercada de plantas num tom verde forte, carregadas de sementes em crescimento.
Seguindo a mesma direção, saímos da estrada principal um pouco antes de chegar a Itapira, para pegarmos uma estrada de chão que nos levaria a Fazenda Águas Claras, fundada em 1870. Atualmente a fazenda produz o Fazenda Águas Claras Cafés Especiais em três versões: Espresso, Gourmet e Orgânico, comercializados em diversas cafeterias de São Paulo. O processo também é artesanal, como as demais, com colheita manual das sementes. Após colhidas, as semente de café, em três estados diferentes: bóia – semente já seca no pé; cereja – semente vermelha; e a verde, são despejados em um reservatório para lavagem e separação.
Detalhes da arquitetura histórica da Fazenda Águas Claras, onde está localizada a Hospedaria. Abaixo imagens do grande terreiro e dos aquedutos que distribuem os grãos de café para secagem.
Os grãos secos (bóias) são os primeiros a percorrerem os aquedutos para serem distribuídos nos terreiros mais simples. Já o grão cereja passa por um maquinário cuja função é pressioná-lo levemente a fim de retirar sua casca, mantendo apenas uma pequena membrana ao redor das sementes. O objetivo desta etapa é evitar que a acidez presente na casca passe para o grão durante a secagem no terreiro. Estes são os grãos de maior valor no que se refere a acidez e aroma produzidos pela fazenda.
As demais etapas de beneficiamento são ainda mais detalhadas, e contam com equipamentos de alta tecnologia. Neles são realizadas a com separação de grãos por peneira (granulometria), verificação de densidade (peso dos grãos), além de um escâner cuja função é separar grãos com forma e/ou cores diferentes, para dar ainda mais uniformidade as sacas.
Além da produção de café, a fazenda conta com uma charmosa hospedaria, para aqueles que realmente desejam se afastar da rotina, e viver a tranqüilidade da natureza por alguns dias. Aproveitamos para almoçar na hospedaria, e experimentar um cardápio repleto de deliciosos pratos da culinária mineira, além de uma mesa de doces e sobremesas recheada de opções... inclusive sorvete de café! É claro que toda essa comilança terminou com um bom espresso, com grãos da Fazenda Águas Claras!
O Daniel, funcionário da fazenda, e que coordena diversas atividades, nos guiou pelas áreas da fazenda destinadas ao cultivo e preparação do café, e nos explicou em detalhes o funcionamento das máquinas especiais para separação e classificação dos grãos.
O nosso terceiro dia de viagem foi de deslocamento entre a região da Mogiana Paulista para o Sul de Minas, onde pretendíamos visitar a Fazenda Sertãozinho (Café Orfeu e Eurídice), em Botelhos, o que infelizmente não foi possível. Seguimos então, direto para Carmo de Minas, para visitar a região do melhor café do Mundo, como foi definida recentemente. De acordo com o Cup Of Excellence (o mais renomado concurso de cafés especiais realizado em todo mundo), dos 217 finalistas entre 2002 e 2009, 57% dos produtores eram do Sul de Minas, sendo 93% da Serra da Mantiqueira e 67% localizados em Carmo de Minas.
Nosso objetivo era participar da visita Rota Especial do Café, desenvolvida pelo Unique Cafés Especiais. Essa visita envolvia um tour monitorado pela Fazenda Sertão (uma das fazendas do Grupo), com direito às explicações sobre a produção do café, visita a mirantes estratégicos para apreciação da plantação e das belezas naturais da região, assim como as técnicas utilizadas para manutenção de plantas por um período maior de tempo, seguida de uma degustação de excelentes cafés, acompanhada dos mais deliciosos quitutes mineiros.
Rota do Café Especial em Carmo de Minas, detalhes dos tipos de café arábica plantados naquele talhão, e o gerente Márcio explicando ao grupo os detalhes da plantação do café.
Contamos com a presença do Gerente Márcio, turismólogo, e que há pouco mais de um ano está desenvolvendo este trabalho de divulgação do produto de excelência que a Unique Cafés Especiais vem produzindo. Como resultado de tanta perfeição no cuidados das plantas, da colheita, e demais processos até chegar às xícaras, a Unique Cafés tem o recorde mundial em pontuação na classificação da bebida, com 95.85 pts em uma escala de 0 a 100, conquistado na Cup of Excellence de 2005. Os grãos produzidos na Fazenda Santa Inês, uma das fazendas do Unique Cafés Especiais, foi premiada como o melhor café do mundo.
Paisagens dos talhões de café da Fazenda Sertãozinho (Unique Cafés Especiais), e abaixo, reportagem sobre o Sr. Francisco Isidro Dias Pereira.
De acordo com Márcio, os cuidados dedicados a produção destes grãos especiais, as condições geográficas e meteorológicas desta região favorecem à máxima qualidade nos frutos, que se preparados adequadamente, resultarão numa excelente xícara de café, cheia de aroma e sabor!
Diferentes estágios do grão: café em coco, café descascado antes de secar (apenas com a membrana) e o café verde (mais comumente comercializado).
Café torrado, café torrado e moído, e enfim, o sabor e o aroma na xícara, para a degustação!
Enfim, voltamos para casa conhecendo melhor este grão historicamente importante para o Brasil, e tão presente no cotidiano do nosso povo. Mas percebemos que ainda mais importante é a necessidade de divulgar, fazendo com que este produto de alta qualidade chegue às xícaras dos brasileiros, visto que é comum a percepção (equivocada!) de que os melhores cafés estão no exterior! É claro que voltamos também recheados de pacotes de cafés, dos mais variados tipos, tamanhos, e cores. Isso com certeza irá render algumas degustações domésticas, para desenvolvermos ainda mais nosso paladar, e em breve retornarmos às demais fazendas que não conseguimos visitar!
Se você se interessou por este roteiro, e desejar realizá-lo, entre em contato com conselheiraparaviagens@gmail.com ou através da web site www.conselheiraparaviagens.com.br para mais informações.
E se você tem dicas sobre outras fazendas de café abertas a visitação e ao turismo, favor nos encaminhar por e-mail. Será um prazer deixar este roteiro ainda mais saboroso!
Um abraço,
Giane Karla Berticelli Nunes

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